quinta-feira, 8 de setembro de 2011

A primeira postagem do meu blog será a íntegra do texto que escrevi para a sessão Monte sua Adega da última edição da revista diVino. 

Espero que seja útil e que curtam! 

Monte sua Adega

Revista diVino, edição 18, ano III

Eduardo A. Paes de Andrade

Convidado pela Heloisa Whately (editora da revista) a escrever a sessão Monte sua Adega, pensei num primeiro momento em fazer uma viagem percorrendo os grandes e memoráveis vinhos que já bebi. Comecei a rascunhar a lista com tais vinhos. Vinhos especiais, deliciosos e que marcaram minha vida. Porém, em sua maioria, esses vinhos foram e são muito, muito caros aqui neste país de carga tributária irracional e escorchante.

Olhei para minha lista de vinhos e me perguntei: A quem servirá essa lista? Quem poderá comprar esses vinhos? Poucos, muito poucos, infelizmente. Eu, certamente, não poderia ou não me disporia a comprar aqui no Brasil a maioria dos vinhos da minha própria lista. Uma pena! E olha que nem havia Bordeaux Premier Cru Classé ou Grand Cru borgonhês de vinhedo monopóle, hein! 

Pois bem, feita e respondida a pergunta, resolvi escrever sobre alguns dos vinhos que eu adoro e que custam até R$ 99,00 em seus respectivos importadores/distribuidores. Cabe ressaltar que a lista desses vinhos é potencialmente muito maior. Portanto, abaixo, estão apenas alguns deles. São vinhos cuja qualidade média eu considero excelente, pois os provei em várias safras.

São eles...

Achaval-Ferrer Malbec 2010 (Argentina, Mendoza)
R$ 79,00 (Inovini)
Para aqueles que, como eu, querem evitar a correnteza de Malbecs argentinos com extração fenólica exagerada, alta octanagem e demasiadamente marcados por notas de carvalho, eis um porto seguro. O Malbec da bodega-boutique Achaval-Ferrer é uma das provas de que se pode produzir Malbecs extremamente elegantes na Argentina. Basta querer e, claro, contar com uma boa dose de talento. Este é fermentado em tanques de concreto e amadurecido por 9 meses em barricas de carvalho francês (25% novas). É cativante. Puro prazer sensorial!



Villard El Noble Sauvignon Blanc Botrytised 2006 (Chile, Vale de Casablanca)
R$ 79,00 - 375ml. (Decanter)
Produzir vinhos com uvas atacadas pelo fungo botrytis cinerea não é tarefa simples. A natureza precisa cooperar para que o fungo surja e ataque os cachos de uva no momento ótimo e de maneira “controlada” (botrytis em excesso pode destruir toda uma safra). Na adega, o fungo também tende a trazer complicações para o enólogo durante a fermentação alcoólica. O Villard El Noble é o melhor vinho de uvas botrytizadas do Cone Sul que eu já tomei. Às cegas, já o vi derrotar Sauternes e Quarts de Chaume de boa linhagem e com o dobro do preço.

Steenberg Sauvignon Blanc (África do Sul, Constantia)
R$ 88,00 (Winebrands)
Especialistas atestam que a morfologia e composição dos solos sul-africanos estão entre os mais antigos do mundo. A consequência: uma vasta diversidade de terroirs. A região de Constantia, próxima à Cidade do Cabo, recebe forte influência oceânica (está praticamente onde os oceanos Atlântico e Índico se encontram) e é uma região perfeita para a Sauvignon Blanc. John Loubser, enólogo da Steenberg, é um craque. Esse seu Sauvignon Blanc básico é delicioso. Típico da cepa, frutado, herbáceo, muito puro e com frescor elétrico.

Spice Route Mourvèdre 2008 (África do Sul, Swartland)
R$ 79,00 (Ravin)
A uva Mourvèdre é muito comum nas regiões vitivinícolas do sul da França (sul do Rhône, Bandol, Provence...), onde normalmente é encontrada em vinhos de assemblage. Mas, ela é nativa da Espanha, onde é chamada de Monastrell. É uma uva caprichosa, com uma janela de colheita muito estreita. Na região de Swartland, a Spice Route parece ter encontrado um terroir perfeito para expressar as virtudes da Mourvèdre: fruta negra, especiarias, ervas, tabaco, boca marcante e persistente. Um tinto muito charmoso, diferente e instigante!

Kumeu River Village Chardonnay 2008 (Nova Zelândia, Auckland)
~R$ 96,00 (Mistral)
Lembro com orgulho que o primeiro grande Chardonnay que bebi - lá se vão uns 12 anos, creio - foi um neo-zelandês da Kumeu River. Estava começando a degustar vinhos com disciplina e fiquei absolutamente fascinado pela intensidade e complexidade de aromas, a textura e a elegância daquela garrafa. Era um Kumeu River de vinhedo único, o Mate’s Vineyard! Inocente até então, logo depois vim saber que se tratava do melhor vinho da melhor casa produtora de Chardonnay da Nova Zelândia. O Village Chardonnay é excelente amostra do talento dos Brajkovich e da qualidade Kumeu River.


Beronia Reserva Rioja DOCa 2006 (Espanha, Rioja)
R$ 98,00 (Inovini)
Sou apaixonado confesso pelos vinhos tintos da região espanhola de Rioja. Em especial dos vinhos daquelas bodegas que adotam com sabedoria o estilo riojano clássico. A Beronia é uma dessas. Seus vinhos obedecem e, não raras vezes, ultrapassam os regimes mínimos de amadurecimento em carvalho e em garrafa determinados pela legislação regional. Porém, com uvas de altíssima qualidade e criterioso trabalho na adega, seus vinhos são muito mais que meras infusões de carvalho. Seu Reserva é um arquétipo da harmonia fruta/carvalho.


Dr. Loosen Riesling Blue Slate Kabinett QMP 2009 (Alemanha, Mosel)
R$ 95 (Inovini)
A Riesling é uma uva branca especial. Em vinhos jovens tende a apresentar uma acidez refrescante e aromas, talvez, bidimensionais. Mas, quando se tem paciência para esperar os bons Rieslings amadurecerem, a recompensa em complexidade é emocionante. Dr. Loosen é uma das melhores vinícolas da Alemanha atualmente. O Blue Slate Kabinett (blue slate porque seus vinhedos estão plantados em solo rico em ardósia azul), com suas nuanças cítricas, florais, minerais e de especiarias, já está delicioso e equilibrado, mas amadurecerá com muita classe. 
(Aos que não estão acostumados a beber vinhos do Mosel, friso que este Kabinett é um vinho semi-seco - também chamado "off-dry" - ou seja, apresenta uma certa doçura na boca proveniente dos açúcares residuais da própria uva - frutose/glicose - intencionalmente não fermentados). 


Zaccagnini Tralcetto Montepulciano d’Abruzzo DOC 2007 (Itália, Abruzzo)
R$ 75,00 (Ravin)
O Abruzzo não é uma das regiões vitivinícolas mais famosas da Itália. Isso é fato e quer saber o que penso sobre isso?! Eu acho ótimo! Pois, ainda podemos beber os deliciosos vinhos feitos por lá sem estourar o bolso. A família Zaccagnini é craque na vinificação da uva Montepulciano. O exemplar da linha Tralcetto amadurece cerca de 6 meses em grandes tonéis (botti) de carvalho esloveno. O resultado é um tinto encantador, com muita fruta, especiarias, taninos sedosos, frescor e grau alcoólico moderado. Gastronômico e para sorver aos goles.









Prunotto Mompertone Monferrato Rosso DOC 2007 (Itália, Piemonte)
R$ 80,00 (Winebrands)
O Piemonte é uma das regiões vitivinícolas mais famosas da Itália e do mundo. É lá que são produzidos os prestigiados Barolo e Barbaresco. Assim, encontrar um vinho piemontês com as virtudes do Prunotto Mompertone (Prunotto é a vinícola piemontesa do grupo Antinori) e abaixo de R$ 100 não é algo corriqueiro. Corte de 60% Barbera e 40% Syrah; 60% do vinho amadurece cerca de 10 meses em grandes tonéis de carvalho francês e o restante em barricas usadas. Fruta e carvalho em harmonia, álcool equilibrado e gostoso frescor.


Masi Campofiorin Rosso del Veronese IGT 2007 (Itália, Veneto)
~R$ 82,00 (Mistral)
Sou fã dos tintos do Vêneto, particularmente, daqueles produzidos com uvas nativas. De fato, um dos melhores vinhos que já bebi foi um tinto veneto. A centenária casa Masi, comandada pela família Boscaini, produz o encantador e já clássico Campofiorin (sua 1ª safra data de 1964). Composto por 70% Corvina, 25% Rondinella e 5% Molinara, o vinho obtido de uvas frescas é refermentado com uvas semi-passas (desidratadas durante cerca de 6 semanas). 2/3 amadurecem cerca de 18 meses em grandes tonéis (90 hl.) de carvalho esloveno e 1/3 em barris (600 l.) de carvalho novo francês e esloveno. Vinho franco e elegante!


Cusumano Benuara IGT 2008 (Itália, Sicilia)
R$ 75,00 (Inovini)
Os vinhos da Sicilia - a maior ilha do Mar Mediterrâneo e uma complexa aquarela de terroirs - deram um fantástico salto de qualidade nos últimos 15 anos e seus melhores tintos já não têm medo dos grandes do centro-norte da península. E os sicilianos têm uma vantagem: preço! O Benuara da família Cusumano é um corte de 70% Nero d’Avola (considerada a mais nobre uva tinta da ilha) e 30% Syrah. Uma parte do vinho amadurece em grandes tonéis (20 hl.) de carvalho francês. Forte personalidade siciliana, mas com carvalho e fruta em linda harmonia. Obteve a excelente pontuação due bicchieri rossi do Guia Gambero Rosso. Isso significa que ele se classificou para rodada final na qual foram selecionados os vinhos com a máxima pontuação do guia, os tre bicchieri.


Dopff au Moulin Crémant d’Alsace Chardonnay Brut AOC 2006 (França, Alsácia)
~R$ 87,00 (Mistral)
Encontrar um belo espumante europeu produzido pelo método tradicional (2ª fermentação em garrafa; o mesmo método utilizado em Champagne) e que custe menos de R$ 100 não costuma ser missão simples. Esse Crémant da Dopff au Moulin sempre me proporcionou saborosas taças com fruta cítrica límpida, uma certa complexidade proveniente do amadurecimento em contato com as próprias borras, ótimo frescor, maciez e persistência final. Na minha opinião, melhor do que muito Champagne famoso que há por aí e, com uma vantagem: custa a metade do preço.


M. Chapoutier Banyuls Rouge AOC 2007 (França, Banyuls)
~R$ 95,00 - 500 ml. (Mistral)
Além de louco por vinho, também sou chocólatra. Portanto, nada melhor do que unir essas duas tentações, não acham?! Bem, em regra, os vinhos que melhor combinam com chocolates são aqueles chamados “doces-fortificados” (no início da fermentação alcoólica recebem adição de aguardente vínica, o que lhes torna doces e com alto grau alcoólico). Lá do sudeste da França, da AOC Banyuls, vem essa beleza de tinto-doce-fortificado feito com uvas Grenache. Simplesmente delicioso com chocolates com alto teor de cacau (ao menos 50-60%). 



Quinta do Vallado Tinto Douro DOC 2008 (Portugal, Douro)
R$ 69,90 (vinhocracia.com.br / Cantu)
Os tintos de mesa do vale do Rio Douro, com muita justiça, figuram atualmente entre os melhores vinhos do mundo. Também, convenhamos, daquela região de beleza ímpar (o Alto Douro é considerado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO) não poderíamos esperar nada menos. Propriedade de descendentes diretos da lendária D. Antonia Ferreira (“a Ferreirinha”), a Quinta do Vallado é sinônimo de Douro de alta qualidade. Este, o Vallado básico, é Douro até a medula: com frutos negros, flores, ervas, boca intensa, marcante e frescor na medida.

10 comentários:

  1. Seguindo... e logo, logo degustando alguns dos vinhos acima. Sarapa certamente irá se interessar pela lista - será assunto para muito bate papo! Parabéns pelo blog - bem vindo ao mundo dos blogueiros!

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  2. Obrigado Sylvinha!
    Mande abraços para Sarapa.
    Beijão.

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  3. Adorei!!! Jà sou sua fa e seguirei atenta as indicaçoes dos italianos!!! Qdo aparece? Beijos

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  4. Oi querida!
    Que bom que você gostou.
    Tem 4 dicas de italianos já nessa primeira postagem. Estão em sequência. Começa com o Zaccagnini e termina com o Cusumano, passando por um clássico aí do Veneto: o Masi Campofiorin, vinho que gosto muito e que aí custa uma pechincha !
    Beijão.

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  5. Fernando Paes de Andrade9 de setembro de 2011 às 15:41

    Grande Dudão,

    parabéns e vamos em frente....

    Será que encontro algum na Bahia?

    Aqui deve ser mais fácil encontrar um tal de Chicleteiro...( ha, ha, ha....)

    Ieda e Fernandinho

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  6. Grande Duda,

    estou na área para ver se aprendo alguma coisa. Parabéns pela iniciativa.

    Abraços,
    Coda

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  7. Duuuuuuuda,
    Fala aí irmão, já imprimi a pagina toda, e estou saindo pra ver se acho algum aqui na terrinha. Livrando do Chicleteiro que Dr. Fernando e D. Ieda falaram! Beijão eles e pra todos.
    Parabéns, esse blog já pegou!
    Forte abraço,
    JORJÃO DO VIETNAM.

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  8. Esse é o meu amigo Jorjão!
    Valeu a força irmão.
    Em mensagem que enviei a Coda, sugeri que ele tentasse a Perini ou a Casa dos Vinhos. Talvez vocês encontrem alguns deles aí na Terrinha.
    Abração.

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  9. Duda,

    Amei a idéia!!! Nada como ter alguém que entende de vinhos para nos ajudar!!!!! Sucesso e vou divulgar para meus amigos!!!!!
    Fomos hoje na loja da Africa do Sul (em Gent), pena que só vi suas indicações agora!! Próximo final de semana vamos tentar achar aqui !!!! Beijos Dani e Paulinho!!!!

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  10. natalia paes de andrade13 de setembro de 2011 às 22:01

    Dudo,

    Amei!! super bom e instrutivo...sem dúvida uma bela idéia!
    bjs e saudades.

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