Espero que seja útil e que curtam!
Monte sua Adega
Revista diVino, edição 18, ano
III
Eduardo A. Paes de Andrade
Convidado pela Heloisa Whately (editora da revista) a escrever a sessão
Monte sua Adega, pensei num primeiro
momento em fazer uma viagem percorrendo os grandes e memoráveis vinhos que já
bebi. Comecei a rascunhar a lista com tais vinhos. Vinhos especiais, deliciosos
e que marcaram minha vida. Porém, em sua maioria, esses vinhos foram e são muito,
muito caros aqui neste país de carga tributária irracional e escorchante.
Olhei para minha lista de vinhos e me perguntei: A quem servirá essa lista? Quem poderá comprar esses vinhos? Poucos,
muito poucos, infelizmente. Eu, certamente, não poderia ou não me disporia a
comprar aqui no Brasil a maioria dos vinhos da minha própria lista. Uma pena! E
olha que nem havia Bordeaux Premier Cru
Classé ou Grand Cru borgonhês de
vinhedo monopóle, hein!
Pois bem, feita e respondida a pergunta, resolvi escrever sobre alguns
dos vinhos que eu adoro e que custam até R$ 99,00 em seus respectivos
importadores/distribuidores. Cabe ressaltar que a lista desses vinhos é
potencialmente muito maior. Portanto, abaixo, estão apenas alguns deles. São vinhos
cuja qualidade média eu considero excelente, pois os provei em várias safras.
São eles...
Achaval-Ferrer Malbec 2010
(Argentina, Mendoza)
R$ 79,00 (Inovini)
Para aqueles que, como eu, querem evitar a correnteza de Malbecs
argentinos com extração fenólica exagerada, alta octanagem e demasiadamente
marcados por notas de carvalho, eis um porto seguro. O Malbec da bodega-boutique Achaval-Ferrer é uma das
provas de que se pode produzir Malbecs extremamente elegantes na Argentina.
Basta querer e, claro, contar com uma boa dose de talento. Este é fermentado em
tanques de concreto e amadurecido por 9 meses em barricas de carvalho francês
(25% novas). É cativante. Puro prazer sensorial!
Villard El Noble Sauvignon Blanc Botrytised 2006 (Chile, Vale de Casablanca)
R$ 79,00 - 375ml. (Decanter)
Produzir vinhos com uvas atacadas pelo fungo botrytis cinerea não é tarefa simples. A natureza precisa cooperar
para que o fungo surja e ataque os cachos de uva no momento ótimo e de maneira
“controlada” (botrytis em excesso
pode destruir toda uma safra). Na adega, o fungo também tende a trazer
complicações para o enólogo durante a fermentação alcoólica. O Villard El Noble
é o melhor vinho de uvas botrytizadas
do Cone Sul que eu já tomei. Às cegas, já o vi derrotar Sauternes e Quarts de
Chaume de boa linhagem e com o dobro do preço.
Steenberg Sauvignon Blanc (África do Sul, Constantia)
R$ 88,00 (Winebrands)
Especialistas atestam que a morfologia e composição dos solos sul-africanos
estão entre os mais antigos do mundo. A consequência: uma vasta diversidade de terroirs. A região de Constantia,
próxima à Cidade do Cabo, recebe forte influência oceânica (está praticamente
onde os oceanos Atlântico e Índico se encontram) e é uma região perfeita para a
Sauvignon Blanc. John Loubser, enólogo da Steenberg, é um craque. Esse seu
Sauvignon Blanc básico é delicioso. Típico da cepa, frutado, herbáceo, muito
puro e com frescor elétrico.
Spice Route Mourvèdre 2008 (África
do Sul, Swartland)
A uva Mourvèdre é muito comum nas regiões vitivinícolas do sul da
França (sul do Rhône, Bandol, Provence...), onde normalmente é encontrada em
vinhos de assemblage. Mas, ela é nativa da
Espanha, onde é chamada de Monastrell. É uma uva caprichosa, com uma janela de
colheita muito estreita. Na região de Swartland, a Spice Route parece ter
encontrado um terroir perfeito para
expressar as virtudes da Mourvèdre: fruta negra, especiarias, ervas, tabaco,
boca marcante e persistente. Um tinto muito charmoso, diferente e instigante!
Kumeu River Village Chardonnay
2008 (Nova Zelândia, Auckland)
~R$ 96,00 (Mistral)
Lembro com orgulho que o primeiro grande Chardonnay que bebi - lá se
vão uns 12 anos, creio - foi um neo-zelandês da Kumeu River. Estava começando a
degustar vinhos com disciplina e fiquei absolutamente fascinado pela
intensidade e complexidade de aromas, a textura e a elegância daquela garrafa.
Era um Kumeu River de vinhedo único, o Mate’s Vineyard! Inocente até então,
logo depois vim saber que se tratava do melhor vinho da melhor casa produtora
de Chardonnay da Nova Zelândia. O Village Chardonnay é excelente amostra do
talento dos Brajkovich e da qualidade Kumeu River.
R$ 98,00 (Inovini)
Sou apaixonado confesso pelos vinhos tintos da região espanhola de
Rioja. Em especial dos vinhos daquelas bodegas que adotam com sabedoria o estilo
riojano clássico. A Beronia é uma dessas. Seus vinhos obedecem e, não raras
vezes, ultrapassam os regimes mínimos de amadurecimento em carvalho e em
garrafa determinados pela legislação regional. Porém, com uvas de altíssima
qualidade e criterioso trabalho na adega, seus vinhos são muito mais que meras
infusões de carvalho. Seu Reserva é um arquétipo da harmonia fruta/carvalho.
Dr. Loosen Riesling Blue Slate Kabinett
QMP 2009 (Alemanha, Mosel)
R$ 95 (Inovini)
A Riesling é uma uva branca especial. Em vinhos jovens tende a
apresentar uma acidez refrescante e aromas, talvez, bidimensionais. Mas, quando
se tem paciência para esperar os bons Rieslings amadurecerem, a recompensa em
complexidade é emocionante. Dr. Loosen é uma das melhores vinícolas da Alemanha
atualmente. O Blue Slate Kabinett (blue
slate porque seus vinhedos estão plantados em solo rico em ardósia azul),
com suas nuanças cítricas, florais, minerais e de especiarias, já está delicioso
e equilibrado, mas amadurecerá com muita classe. (Aos que não estão acostumados a beber vinhos do Mosel, friso que este Kabinett é um vinho semi-seco - também chamado "off-dry" - ou seja, apresenta uma certa doçura na boca proveniente dos açúcares residuais da própria uva - frutose/glicose - intencionalmente não fermentados).
Zaccagnini Tralcetto Montepulciano
d’Abruzzo DOC 2007 (Itália, Abruzzo)
R$ 75,00 (Ravin)
O Abruzzo não é uma das regiões vitivinícolas mais famosas da Itália.
Isso é fato e quer saber o que penso sobre isso?! Eu acho ótimo! Pois, ainda
podemos beber os deliciosos vinhos feitos por lá sem estourar o bolso. A
família Zaccagnini é craque na vinificação da uva Montepulciano. O exemplar da
linha Tralcetto amadurece cerca de 6 meses em grandes tonéis (botti) de carvalho esloveno. O resultado
é um tinto encantador, com muita fruta, especiarias, taninos sedosos, frescor e
grau alcoólico moderado. Gastronômico e para sorver aos goles.
R$ 80,00 (Winebrands)
O Piemonte é uma das regiões vitivinícolas mais famosas da Itália e do
mundo. É lá que são produzidos os prestigiados Barolo e Barbaresco. Assim, encontrar
um vinho piemontês com as virtudes do Prunotto Mompertone (Prunotto é a
vinícola piemontesa do grupo Antinori) e abaixo de R$ 100 não é algo
corriqueiro. Corte de 60% Barbera e 40% Syrah; 60% do vinho amadurece cerca de
10 meses em grandes tonéis de carvalho francês e o restante em barricas usadas.
Fruta e carvalho em harmonia, álcool equilibrado e gostoso frescor.
Masi Campofiorin Rosso del
Veronese IGT 2007 (Itália, Veneto)
~R$ 82,00 (Mistral)
Sou fã dos tintos do Vêneto, particularmente, daqueles produzidos com
uvas nativas. De fato, um dos melhores vinhos que já bebi foi um tinto veneto. A
centenária casa Masi, comandada pela família Boscaini, produz o encantador e já
clássico Campofiorin (sua 1ª safra data de 1964). Composto por 70% Corvina, 25%
Rondinella e 5% Molinara, o vinho obtido de uvas frescas é refermentado com uvas
semi-passas (desidratadas durante cerca de 6 semanas). 2/3 amadurecem cerca de
18 meses em grandes tonéis (90 hl.) de carvalho esloveno e 1/3 em barris (600
l.) de carvalho novo francês e esloveno. Vinho franco e elegante!
Cusumano Benuara IGT 2008
(Itália, Sicilia)
R$ 75,00 (Inovini)
Os vinhos da Sicilia - a maior ilha do Mar Mediterrâneo e uma complexa
aquarela de terroirs - deram um
fantástico salto de qualidade nos últimos 15 anos e seus melhores tintos já não
têm medo dos grandes do centro-norte da península. E os sicilianos têm uma
vantagem: preço! O Benuara da família Cusumano é um corte de 70% Nero d’Avola
(considerada a mais nobre uva tinta da ilha) e 30% Syrah. Uma parte do vinho
amadurece em grandes tonéis (20 hl.) de carvalho francês. Forte personalidade
siciliana, mas com carvalho e fruta em linda harmonia. Obteve a excelente pontuação
due
bicchieri rossi do Guia Gambero Rosso. Isso significa que ele se
classificou para rodada final na qual foram selecionados os vinhos com a máxima
pontuação do guia, os tre bicchieri.
Dopff au Moulin Crémant d’Alsace Chardonnay
Brut AOC 2006 (França,
Alsácia)
~R$ 87,00 (Mistral)
Encontrar um belo espumante europeu produzido pelo método tradicional
(2ª fermentação em garrafa; o mesmo método utilizado em Champagne) e que custe
menos de R$ 100 não costuma ser missão simples. Esse Crémant da Dopff au Moulin
sempre me proporcionou saborosas taças com fruta cítrica límpida, uma certa
complexidade proveniente do amadurecimento em contato com as próprias borras,
ótimo frescor, maciez e persistência final. Na minha opinião, melhor do que
muito Champagne famoso que há por aí e, com uma vantagem: custa a metade do
preço.
M. Chapoutier Banyuls Rouge AOC 2007 (França, Banyuls)
~R$ 95,00 - 500 ml. (Mistral)
Além de louco por vinho, também sou chocólatra. Portanto, nada melhor
do que unir essas duas tentações, não acham?! Bem, em regra, os vinhos que
melhor combinam com chocolates são aqueles chamados “doces-fortificados” (no
início da fermentação alcoólica recebem adição de aguardente vínica, o que lhes
torna doces e com alto grau alcoólico). Lá do sudeste da França, da AOC
Banyuls, vem essa beleza de tinto-doce-fortificado feito com uvas Grenache.
Simplesmente delicioso com chocolates com alto teor de cacau (ao menos 50-60%).
R$ 69,90 (vinhocracia.com.br / Cantu)
Os
tintos de mesa do vale do Rio Douro, com muita justiça, figuram atualmente
entre os melhores vinhos do mundo. Também, convenhamos, daquela região de
beleza ímpar (o Alto Douro é considerado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO) não
poderíamos esperar nada menos. Propriedade de descendentes diretos da lendária
D. Antonia Ferreira (“a Ferreirinha”), a Quinta do Vallado é sinônimo de Douro
de alta qualidade. Este, o Vallado básico, é Douro até a medula: com frutos
negros, flores, ervas, boca intensa, marcante e frescor na medida.






Seguindo... e logo, logo degustando alguns dos vinhos acima. Sarapa certamente irá se interessar pela lista - será assunto para muito bate papo! Parabéns pelo blog - bem vindo ao mundo dos blogueiros!
ResponderExcluirObrigado Sylvinha!
ResponderExcluirMande abraços para Sarapa.
Beijão.
Adorei!!! Jà sou sua fa e seguirei atenta as indicaçoes dos italianos!!! Qdo aparece? Beijos
ResponderExcluirOi querida!
ResponderExcluirQue bom que você gostou.
Tem 4 dicas de italianos já nessa primeira postagem. Estão em sequência. Começa com o Zaccagnini e termina com o Cusumano, passando por um clássico aí do Veneto: o Masi Campofiorin, vinho que gosto muito e que aí custa uma pechincha !
Beijão.
Grande Dudão,
ResponderExcluirparabéns e vamos em frente....
Será que encontro algum na Bahia?
Aqui deve ser mais fácil encontrar um tal de Chicleteiro...( ha, ha, ha....)
Ieda e Fernandinho
Grande Duda,
ResponderExcluirestou na área para ver se aprendo alguma coisa. Parabéns pela iniciativa.
Abraços,
Coda
Duuuuuuuda,
ResponderExcluirFala aí irmão, já imprimi a pagina toda, e estou saindo pra ver se acho algum aqui na terrinha. Livrando do Chicleteiro que Dr. Fernando e D. Ieda falaram! Beijão eles e pra todos.
Parabéns, esse blog já pegou!
Forte abraço,
JORJÃO DO VIETNAM.
Esse é o meu amigo Jorjão!
ResponderExcluirValeu a força irmão.
Em mensagem que enviei a Coda, sugeri que ele tentasse a Perini ou a Casa dos Vinhos. Talvez vocês encontrem alguns deles aí na Terrinha.
Abração.
Duda,
ResponderExcluirAmei a idéia!!! Nada como ter alguém que entende de vinhos para nos ajudar!!!!! Sucesso e vou divulgar para meus amigos!!!!!
Fomos hoje na loja da Africa do Sul (em Gent), pena que só vi suas indicações agora!! Próximo final de semana vamos tentar achar aqui !!!! Beijos Dani e Paulinho!!!!
Dudo,
ResponderExcluirAmei!! super bom e instrutivo...sem dúvida uma bela idéia!
bjs e saudades.